sábado, 18 de janeiro de 2020

Negros, mulheres, LGBTs e índios também são judeus
Reinaldo Azevedo

17/01/2020 15h43


Bolsonaro fala a jornalistas às portas do Palácio da Alvorada no dia 15 de janeiro. Ele emula Goebbels todos os dias (Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo)

Iria voltar ao trabalho na segunda. Antecipo. O tema exige. Roberto Alvim protagonizou o disparate final. Caiu quem jamais deveria ter ascendido não estivéssemos num hospício ideológico. Pergunta óbvia: ele se vai, mas as intenções e os valores do governo que o conduziu à secretaria de Cultura mudaram? Resposta igualmente óbvia: não!

À saída, Alvim sugere ter sido vítima de uma cilada. Fica a sugestão de que alguém soprou ao seu ouvido o trecho colado do discurso de Goebbels. Quem? Pode até haver a pessoa que lhe tenha passado a cola, mas, reitero, estamos lidando com um conjunto de signos. Deutschland über alles (A Alemanha acima de tudo). Brasil über alles. O Brasil acima de tudo. Nem o corte de cabelo do nosso condutor é original. Poucos reclamaram.

"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada".

Trata-se, obviamente, de uma visão autoritária da cultura. O que significa uma "arte imperativa"? Quais seriam as "aspirações urgentes de nosso povo"? Qual povo? Essa "unidade", ancorada numa suposta vontade da maioria, representada pelo líder constitui o cerne do postulado de Jair Bolsonaro e daqueles que o seguem. Também o famoso "João 8:32", retirado do contexto, ganhou a sua interpretação nazistoide: "Conhecereis a verdade, e ela vos libertará".

A "verdade", no caso, é a palavra de Cristo. Na vulgata bolsonariana, trata-se da licença para discriminar negros, mulheres, índios e a população LGBT. Trata-se de uma divisa para criminalizar a divergência e transformar a oposição ao governo, de qualquer natureza — até as dissensões nascidas em seu próprio campo ideológico —, como um mal a ser extirpado.

Alvim parodiou Goebbels. Bolsonaro faz isso cotidianamente à porta do Palácio da Alvorada. Prestem atenção a este trecho:
"Se hoje a imprensa judaica acredita que pode fazer ameaças veladas contra o movimento Nacional-Socialista e acredita que pode burlar nossos meios de defesa, então, não deve continuar mentindo. Um dia nossa paciência vai acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!"

É o mesmo Goebbels a discursar numa grande manifestação em Berlim no dia 10 de fevereiro de 1933. Hitler estava no poder havia apenas 11 dias. O tom é de ameaça e retaliação. E ela chegou. Nós, os jornalistas independentes, somos tratados todos os dias pelo presidente como os "judeus insolentes", as "bocas mentirosas". Nem as respectivas mães dos repórteres são poupadas da fúria do "condutor".

A referência de Alvim a Goebbels é, obviamente, asquerosa, mas requer um contexto e algum conhecimento histórico. Há falas, no entanto, que dispensam o apelo à história para que caracterizem o mal em si. Querem ver?
"Não podemos abrir as portas para todo mundo. Alguém já viu algum japonês pedindo esmola? É uma raça que tem vergonha na cara! (…) "O pessoal aí embaixo [manifestantes] eu chamo de cérebro de ovo cozido. Não adianta botar a galinha, porque não vai sair pinto nenhum. Não sai nada daquele pessoal (…). Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais."

O então candidato Bolsonaro falou, num clube judaico — e conta, como se sabe, com o apoio organizado de parte considerável dessa comunidade — , sobre raças que têm e que não têm "vergonha na cara". Associou uma parcela da população negra a animais. Foi aplaudido, ovacionado, chamado de "mito".

Já é um clichê apelar a um texto do pastor Martin Niemöller (não é de Maiakovski). Na juventude, o religioso alemão chegou a flertar com o nazismo. Mudou radicalmente. Acabou preso e processado pelo regime em 1937:
"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu me calei porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu me calei porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".

Boa parte do público presente ao evento da Hebraica, no Rio, não protestou.

Alvim se vai. Mas e os que ficam?

O Brasil só sairá dessa lama moral quando negros, mulheres, LGBTs, índios e pessoas que dissentem também forem considerados judeus.

Antes que digam que a associação banaliza o Holocausto, observo que convém não banalizar nem aplaudir a discriminação e a cultura da violência. A política que buscou exterminar os judeus em particular nos remete, por contraste, ao que conseguimos produzir de melhor nas democracias: a universalidade de direitos fundamentais.

Só ela protege os que são e os que não são judeus.

  • ** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Quem está por trás da TV Afiada?

Uma produção Amuleto Filmes
publicado 26/12/2019

2019 se aproxima do fim e, como o amigo navegante bem sabe, não foi um ano fácil. Ao contrário. Em todos os aspectos, foram 12 meses de provações diárias, meses que demandaram disposição e resistência imensuráveis. Para o Conversa Afiada, então, este ano reservou uma das piores notícias jamais previstas.
Com a morte de nosso saudoso Paulo Henrique Amorim, aquele que criou este espaço do zero e o transformou em uma das principais referências no jornalismo independente no Brasil e na América Latina, muitos têm se perguntando: afinal, quem esteve e está por trás do Conversa Afiada?
Em primeiro lugar, é preciso contextualizar como funcionava a dinâmica do Conversa Afiada sob a batuta do ansioso blogueiro. Ele, PHA, editor-chefe, sempre contou com uma pequena, mas (como ele mesmo sempre fez questão de ressaltar), aguerrida equipe de jornalistas que compartilhavam e compartilham de seu sonho de construir uma imprensa independente, popular e contra-hegemônica.
Após a morte de PHA, em julho, este time decidiu - como o próprio ansioso blogueiro também gostava de dizer - tocar o barco. Manter acesa essa chama que o motivava e motivava a todos nós. A mesma equipe que, sob a liderança de PHA, não poupava esforços para levar o Conversa Afiada cada vez mais longe, continua aqui, diariamente, manejando essa navalha e fazendo o possível para que ela continue sempre afiada.
Como este vídeo deixa claro, não houve, não há e jamais haverá a mínima pretensão de substituir PHA. Ele é insubstituível - sim, existem pessoas assim. Posto isso, o que este time tem feito ao longo dos últimos meses é continuar o trabalho com a mesma dedicação e os mesmos objetivos de sempre. Neste vídeo, vocês poderão notar que os atuais integrantes da equipe aprenderam por anos com o ansioso blogueiro. E, também por isso, acreditam na importância de manter essa Conversa cada vez mais Afiada.
Se o amigo navegante tiver qualquer dúvida, não hesite em nos contatar nas redes sociais, no YouTube ou neste site.
Um ótimo 2020 a todos!
Geórgia Pinheiro - Diretora-Executiva
Cacá Melo - Editor
Leonardo Miazzo - Editor
Marjorie Fernandes - Editora
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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Por que Jesus nunca disse que era Deus, mas o “filho do homem”?
O Jesus que tantos usam hoje como um pretexto do poder, sentiu a fragilidade de todos os humilhados
Por Juan Arias Atualizado em 24 dez 2019, 12h00 - Publicado em 24 dez 2019, 11h00
Artista finaliza escultura de Jesus Cristo na semana de comemoração da Páscoa em Manila, Filipinas Romeo Ranoco/Reuters/VEJA
Por Juan Arias
Um dos temas mais controversos sobre Jesus de Nazaré, cujo Natal o mundo cristão se prepara para celebrar, é se Jesus em algum momento afirmou ser Deus. Embora possa causar estranhamento, acostumados ao que a oficialidade da Igreja Católica considera como tal, a verdade é que ele nunca se definiu assim. Ele se denominava “filho do homem”, que, em aramaico, a língua que ele e seus apóstolos falavam, significa simplesmente homem, uma definição certamente tirada do profeta Enoque.
Curiosamente, o primeiro a chamar Jesus de “homem” é Pôncio Pilatos, durante o processo que o levou à morte, quando depois de tê-lo submetido a tortura, apresenta-o à multidão, dizendo com sarcasmo: “Aqui está o homem!” Certamente não era a imagem de alguém que se sentia deus. Era um homem humilhado, sem poder, símbolo da fragilidade humana.
Não era um deus do Olimpo. Ele se sentia representante da Humanidade sofredora. Não se envergonhava de ser como todos nós, um projeto inacabado, um feixe de desejos inalcançáveis e, ao mesmo tempo, um coração capaz de produzir felicidade e sentir o mistério. Nascido na pobreza, lançou um grito pungente do alto da cruz. Foi um grito de partir o coração, não de quem se sente Deus e onipotente, mas esquecido por Ele e humilhado pelos homens.
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Se ele se sentisse Deus, sua atitude naquela hora derradeira, não teria tido a necessidade de exigir contas da divindade: “Por que me abandonastes?”, gritou a Deus, ele que dizia de si mesmo, “filho do homem”, um como nós, sempre atento a defender a escória sofredora da humanidade. Aquele grito, da cruz, é o que faz daquele profeta judeu o melhor símbolo da nossa fragilidade humana e de nossa busca por resgate e esperança.
Aquele grito foi o mais emblemático da Humanidade. É o verso mais repleto de simbolismos e metáforas, de todos os que alguma vez na vida se sentiram obrigados a pedir contas a Deus. Aquele grito de quem se sentia o “filho do homem”, não serviu para eliminar a dor da terra, mas, sim, para tentar dar-lhe sentido.
Era o grito de seus compatriotas judeus dos campos de extermínio, dos injustamente perseguidos, o clamor de todos os torturados das ditaduras e das mães que choram pelos filhos sacrificados inutilmente nas guerras, dos que saem de todos os manicômios do mundo no desespero da psique torturada. O grito de medo de cada recém-nascido diante do mistério da vida.
O Jesus que tantos usam hoje como um pretexto do poder que humilha e discrimina os diferentes, sentiu a fragilidade de todos os humilhados e abandonados à sua sorte, vítimas da ganância humana.
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Também daquela multidão de mulheres, homens e crianças maltratados e humilhados nas periferias do mundo, esses imigrantes rejeitados por todos, e esses milhões que neste Natal, de ponta a ponta do planeta, continuarão a perguntar ao poder: “Por que nos abandonastes?”
É difícil entender a parábola do Natal e gostarmos da doçura de suas festas sem incorporar num mesmo pulsar o nascimento daquele menino pobre e emigrante que, segundo a tradição, seus pais esconderam de Herodes, que queria matá-lo, e o seu trágico fim de condenado à morte como um mero malfeitor.
(Transcrito do El País) 
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domingo, 22 de dezembro de 2019

Impeachment ou parlamentarismo, o que se desenha
Bolsonaro não fará falta
Por Ricardo Noblat - Atualizado em 22 dez 2019, 09h00 - Publicado em 22 dez 2019, 08h00
ISOLAMENTO - Na entrada do palácio, sozinho: o presidente dorme com uma arma ao alcance da mão Cristiano Mariz/VEJA
Um dia, o presidente Jair Bolsonaro diz que se seu filho Flávio Bolsonaro “errou e for provado”, lamentará como pai, mas que “ele terá de pagar o preço por aquelas ações que não temos como aceitar”. Foi em 23 de janeiro último, em Davos, na Suíça, onde Bolsonaro estava para participar do Fórum Econômico Mundial.
Em outro dia, Bolsonaro diz que há um abuso do Ministério Público nas investigações sobre o desvio de dinheiro público que envolve Flávio e Queiroz e que pode atingir a família presidencial. E que é preciso controlar o Ministério Público. Foi ontem. E desabafou: “Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”.
Controlado, Bolsonaro jamais foi desde que, afastado do Exército por indisciplina entrou para a política e viveu quase 30 anos como deputado federal. Mas ao fim do seu primeiro ano de governo, ele dá sucessivos sinais de um descontrole exacerbado, o que levanta dúvidas sobre se terá condições de completar seu mandato.
Na última sexta-feira, Bolsonaro atacou um jornalista dizendo que ele tinha cara de homossexual. Nesse sábado, convidou jornalistas para uma conversa e disse, entre outras coisas, que é “um político tosco” e que na economia seu patrão é o ministro Paulo Guedes. Desejou Feliz Natal “mesmo sem carne para alguns”.
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Não ficou por aí. Admitiu que está infeliz como presidente da República porque a vida “é muito sacrificante”. À parte os generais presidentes da ditadura militar de 64, presidente algum da redemocratização do país para cá queixou-se tanto do cargo e revelou-se tão pouco capaz de exercê-lo.
A facada de Juiz de Fora fez muito mal a ele. Mais à cabeça do que ao resto do corpo. Bolsonaro tornou-se um paranoico. Enxerga ameaças à sua vida por toda parte. Evita passear na área externa do Palácio da Alvorada com medo de ser assassinado por um drone. Veste colete à prova de balas. Tem sempre armas por perto.
“Não dá para saber tudo o que acontece dentro do governo”, constata. Desconhece que um presidente não precisa saber tudo o que acontece dentro do seu governo, apenas o principal. Que não precisa entender de tudo, mas cercar-se de quem entenda. Mas que há de ter bom senso e noção de para onde quer conduzir o país.
São qualidades que ele não tem. Sua eleição foi um acidente, resultado de uma conjuntura que não se repetirá. Seu governo é  acidental. Parte dos que votaram nele já se arrependeram. A mais recente pesquisa IBOPE revelou que cresce a desaprovação ao seu desempenho. A palavra “impeachment” começa a ser ouvida.
O impeachment parece improvável em um país onde dois presidentes acabaram no chão no curto período de 23 anos. A adoção do parlamentarismo como sistema de governo não parece assim tão improvável. Quando nada porque, na ausência de um presidente funcional, é nessa direção que se caminha.
A não ser seus devotos mais fiéis e irascíveis, Bolsonaro não deixará órfãos se cair ou se acabar ficando como um presidente decorativo.
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domingo, 15 de dezembro de 2019

O que se sabe sobre a sexualidade de Jesus? Houve um evangelho erótico?
Os Evangelhos que a Bíblia católica nos oferece são uma fonte de sabedoria. Basta ter a coragem de lê-los sem preconceitos
Por Juan Arias Atualizado em 15 dez 2019, 11h00 - Publicado em 15 dez 2019, 10h00
Bíblia Corbis/VEJA

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Dilma cobra “esclarecimentos” de Villas Bôas

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Em nota, Dilma Rousseff cobrou do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, que revele os nomes dos parlamentares que, segundo ele, o sondaram durante o processo de impeachment a respeito da decretação de um Estado de Defesa no país — pelo qual a presidente poderia decretar uma situação emergencial por 30 dias.
“Se isso ocorreu, é imprescindível o nome dos deputados, pois eles devem esclarecimentos ao país. Caso contrário, a responsabilidade cabe ao general e à sua assessoria parlamentar”, afirma Dilma.
A presidente impichada prossegue:
“Explique por que, se ficou preocupado, não informou as autoridades superiores, ministro da Defesa e presidente da República — comandante supremo das Forças Armadas — sobre o fato de dois integrantes do Legislativo sondarem a assessoria parlamentar do Exército sobre um ato contra a democracia, uma vez que contrário ao direito de livre manifestação?  Por que não buscou esclarecer se a iniciativa dos deputados contava com respaldo da comandante das Forças Armadas? Não respeitou a hierarquia?”
No comunicado, Dilma ainda diz que “a intervenção militar contra a democracia é um golpe”. “Os golpistas são aqueles que apoiaram a nova forma de golpe, ou seja, um processo de impeachment sem crime de responsabilidade e o meu consequente afastamento da Presidência da República.”
A petista encerra o texto da seguinte forma: “O senhor general deve à República, a bem do Estado Democrático de Direito, esses esclarecimentos”.
O Brasil, para frente ou para trás
Qual a direção?
Por Gustavo Krause Atualizado em 15 dez 2019, 12h00 - Publicado em 15 dez 2019, 11h00
Bandeira nacional brasileira é vista em frente ao congresso enquanto professores universitários e estudantes protestam contra cortes nos gastos gastos federais em educação superior anunciados pelo governo Bolsonaro - 15/05/2019 Adriano Machado/Reuters
A minha geração veio ao mundo nos anos 40/50. Sobreviventes, somos testemunhas do país que resistiu à toda sorte de desmandos e pede passagem para entrar segunda década do século XXI. A única certeza é a dúvida: em que direção?
Olhemos para trás: no decênio 40/50, éramos 52 milhões de habitantes e, hoje, 208 milhões, quinta nação mais populosa do mundo; economicamente irrelevante, o Brasil era uma gigantesca fazenda monoexportadora de café, atualmente, figura entre as 10 maiores economias do Planeta; a expectativa de vida ao nascer era de 45,5 anos, hoje, chega a 72,8 para homens e 79,9 para mulheres; a taxa de mortalidade infantil era de 146 óbitos por 1000 nascidos, em 2018 estão registrados 12,4 óbitos por 1000 nascidos.
Com efeito, os números são quantitativamente expressivos, porém quando cotejados com certos indicadores revelam desafios monumentais a serem enfrentados urgentemente. É o que revela o PISA, indicador da OCDE que trienalmente avalia alunos de 15 anos, em 79 países, mostrando o Brasil estagnado na 57ª posição; O IDH, atolado no 79o lugar entre 189 países; medido pelo coeficiente de Gini, o Brasil aparece como o 9o país mais desigual do mundo.
Ora, existe alguma incongruência na comparação dos dados? Não. Os primeiros medem aspectos quantitativos e o segundo conjunto se baseia em critérios qualitativos. A qualidade fará a diferença na medida em que aperfeiçoa as pessoas, tornando-as aptas a assimilarem os súbitos avanços da ciência e da tecnologia, assim como participarem das novas configurações político-institucionais. Neste sentido, o desafio central da humanidade é assegurar a liberdade em todas as suas dimensões.
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E o Brasil pode? A sociedade brasileira, em vários episódios, vem mostrando a força das instituições e espírito empreendedor a exemplo da cmpetitividade do agronegócio: terceiro produtor agrícola do mundo; safra de 2018/19, produção de 240 milhões de toneladas (área plantada de 2008/09, 42 milhões de hectares e, em 2018/19, 49 milhões de hectares, 16% para um incremento na produção de 78%). A produtividade é amiga da floresta.
E o Governo? “Cuidar da porteira para fora”, diz um líder do setor, referindo-se à precariedade da logística.
Eis aí o caminho a ser trilhado: tornar produtivas as pessoas para a vida e, como é impossível predizer o futuro, seguir o conselho de Yuval Harari: “se libertar do passado e imaginar destinos alternativos”.