quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Igor Gielow
igor.gielow@grupofolha.com.br

Se topar convite de Bolsonaro, Moro legitima discurso do PT contra Lava Jato
Só de se dizer honrado pela hipótese de ser ministro ou ir ao STF, juiz já abre trinca na sua imagem

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31.out.2018 às 7h30
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O juiz federal Sergio Moro se diz “honrado” pelo o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Qual deles? O de ministro da Justiça? O de ministro do Supremo quando Celso de Mello ou outro pendurar a toga?


O juiz federal Sergio Moro após votar no primeiro turno das eleições deste ano, em Curitiba - Rodolfo Buhrer - 7.out.2018/Reuters
É irrelevante, porque ele deixou a porta aberta: “Caso efetivado oportunamente o convite, será objeto de ponderada discussão e reflexão”, escreveu. O que importa é que, só de se dizer honrado e pensativo, Moro começa a destruição de tudo o que construiu com a Operação Lava Jato —uma obra coletiva, claro, mas que teve no combativo magistrado seu símbolo.

Se cometeu alguns erros graves e abusos durante a condução de um processo que há muito saiu do escopo de sua mesa em Curitiba, o saldo da atuação de Moro sempre foi positivo. A Lava Jato rompeu uma barragem de dejetos acumulados por décadas e que encontraram no petrolão sua expressão maior.

Nesses casos, como foi quando a Itália dos anos 1990 foi varrida pela Operação Mãos Limpas, sobra pouco pela frente. O sistema político, já questionado por sua ineficiência em prover a população de serviços decentes, virou um inevitável alvo indistinto. Corruptos e honestos caíram juntos.

Muitos acusam Moro e a operação pela eleição de um político oriundo de uma franja radicalizada do Parlamento à Presidência, que ocupou espaço na terra arrasada. Não chego a tanto: os políticos que caíram nas mãos de Moro só chegaram lá porque fizeram algo errado, e a história do fenômeno bolsonarista é mais complexa do que isso.

A questão é outra, mais narrativa e ética. Quando errou gravemente, como no caso da divulgação dos áudios entre Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff antes do impeachment, ou de forma mais venial, hipótese da divulgação do repeteco da delação de Palocci às vésperas do primeiro turno deste ano, ele sempre foi acusado pelo PT de perseguir o partido.

Se topar integrar o time de Bolsonaro como ministro, é desnecessário dizer que estará chancelando essa acusação politicamente. Foi o calendário processual de Moro que deixou Lula fora da eleição deste ano, sem entrar na discussão do mérito das sérias acusações —e na minha opinião de que o petista perderia um segundo turno de toda forma.

Se for indicado ao Supremo, também estará exposto a críticas, com menos intensidade talvez. Mas a ideia de prêmio por bons serviços estará dada.

O estrago já ocorreu. Honrado e pensativo, Moro irá ouvir Lula novamente no inquérito sobre o sítio de Atibaia, aliás bem mais complicado para o ex-presidente do que foi o do tríplex do Guarujá. Se não aceitar e ficar apenas honrado, ou se ainda estiver pensando, como julgará o caso? Certamente dirá que é imparcial, mas trincas de estátuas não costumam diminuir com o tempo.

E Moro é isso, um ícone indissociável do monumento da Lava Jato, por uma dessas perversões tropicais a que estamos acostumados. A rachadura provocada por esse flerte com Bolsonaro já está instalada; caberá a ele escolher se vai deixar tudo desmoronar ou achar alguma saída honrosa para mitigar esse desastre.

 

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Os momentos de Moro

terça-feira, 30 de outubro de 2018

ENTREVISTAS MOSTRAM PORQUE O “MITO” FUGIU DOS DEBATES COM HADDAD: SERIA MASSACRADO

ENTREVISTAS MOSTRAM PORQUE O “MITO” FUGIU DOS DEBATES COM HADDAD: SERIA MASSACRADO

“Você não acha que quem atua na sombra oculta a escuridão do seu passado?” (pergunta enviada pelo leitor Heraldo Campos ao Balaio).
***
As primeiras entrevistas de Jair Bolsonaro depois de eleito a emissoras de TV, na noite de segunda-feira, mostraram que os estrategistas nacionais e estrangeiros estavam certos ao não permitir que ele fosse aos debates com Fernando Haddad no segundo turno.
A diferença de preparo e conhecimento entre os dois candidatos era tão gritante que teria sido um massacre.
Tem toda razão o leitor que me enviou a pergunta que está na epígrafe, com o seguinte comentário: “Essas milícias da nova ordem já estavam aí atuando e agora elegeram um presidente para dar respaldo e legitimidade para elas”.
Passo a palavra ao colega Hélio Schwartsman, que lhe dá a resposta na coluna “Explorando as ambiguidades”, hoje na Folha:
“Jair Bolsonaro conseguiu a façanha de ser eleito presidente sem ter dito o que pretende fazer depois de 1º de janeiro”.
Também não precisou sair de casa no segundo turno para olhar na cara dos eleitores mantidos a distância.
Se escapou de falar do seu passado nada recomendável, como militar e deputado, Bolsonaro também não conseguiu dizer nada sobre o futuro nas entrevistas, pois não tem a menor ideia de como enfrentar os principais problemas brasileiros.
Para se ter uma ideia, até agora o presidente eleito nada disse em discursos e entrevistas sobre a grande tragédia do desemprego, que atinge 12,5 milhões de brasileiros, segundo os novos números divulgados pelo IBGE nesta terça-feira.
Em suas respostas, com dificuldades para dar sentido a duas frases seguidas, o “Mito” só repete platitudes e generalidades, sem sair do varejo para apresentar um programa concreto de governo. “Precisa ver isso aí”, costuma repetir ao responder sobre qualquer assunto.
Eleito sob a bandeira do combate à corrupção, surfando na onda do antipetismo, com uma pauta evangélica nos costumes, a única coisa concreta que conseguiu dizer em cinco entrevistas é que vai convidar Sergio Moro para integrar o seu governo e cortar a verba de publicidade oficial dos órgãos de imprensa críticos e independentes.
A ameaça direta feita à Folha é um aviso para os demais: ou vocês me apoiam ou eu corto a grana.
Repete dessa forma o que Fernando Collor fez em 1989, quando levou para o Ministério da Justiça o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Francisco Rezek, que tinha lhe facilitado a vida durante a campanha e sumiu nas horas decisivas daquela eleição.
E também repete o general Hugo Abreu, que no auge da ditadura cortou as verbas oficiais do Jornal do Brasil, um dos poucos que manteve posição crítica ao regime militar.
“Começou mal. A defesa da liberdade ficou no discurso de ontem”, escreveu o ex-governador Geraldo Alckmin no Twitter sobre as ameaças à Folha.
Estamos agora vendo tudo acontecer de novo, as piores práticas anti-republicanas recicladas pelo presidente eleito.
Nomear Moro é mais ou menos como convidar o juiz da partida decisiva do Brasileirão para ser o novo diretor de futebol do clube vencedor.
Não é para menos a gratidão: foi o juiz Sergio Moro, no comando da República de Curitiba, quem mais se empenhou para tirar da disputa o ex-presidente Lula, principal concorrente de Bolsonaro, que liderava todas as pesquisas antes de ser impedido de participar das eleições pelo TSE.
Cada dia o presidente eleito fala uma coisa diferente, desmentindo hoje o que os integrantes da sua equipe anunciaram ontem, como no caso da reforma da previdência, em que ele não tem a menor ideia do que pretende fazer.
Depois de levar um susto com a queda da Bolsa e a alta do dólar, no dia seguinte à eleição, ao contrário do que se esperava, agora Bolsonaro já admite aprovar “ao menos parte” da proposta de Michel Temer, tão criticada pelo futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que disse no começo de outubro:
“O Jair não era a favor dessa reforma, eu não sou a favor dessa reforma, a maioria das pessoas que apoiam o Bolsonaro não são a favor do que o Temer propôs porque ela é ruim, uma porcaria”.
Então, como ficamos? Que parte da proposta ele pretende que seja aprovada ainda este ano? Como não lhe perguntaram, também não se deu ao trabalho de esclarecer o distinto público.
Seus homens de confiança vivem dando trombadas entre si e com ele, dando uma ideia do que nos espera quando todos forem para o Palácio do Planalto em janeiro.
Assim como abri a coluna de hoje com uma pergunta do leitor Heraldo Campos, encerro também como uma frase de Carl Sagan que ele me enviou:
“Não seria demasia lembrar que os arautos das devassas ilegais, odiosas e fascistas acabam por ter que quebrar seus próprios espelhos”.
Ainda faltam dois meses para a posse.
Mas agora não há mais o que fazer a não ser rezar, de preferência bem longe do pastor Magno Malta, o capelão oficial, e do coroinha Alexandre Frota.
É o que nos espera.
Os primeiros sinais da nova ordem são assustadores e nada indica que as milícias bolsonarianas deponham as armas tão cedo, como relatei no post anterior.
Vida que segue.

Quem controlará a Globo? Está no espaço!

Ainda bem que não passaram a moto-serra na Bláblárina. Foi só no Ministério...
publicado 30/10/2018
Sem Título-7.jpg
Liga o Vasco, navegante de longo curso, ancorado num ponto protegido do litoral da Barra da Tijuca, a Miami do Rio:
Ansioso blogueiro, estou muito preocupado com essa fusão dos Ministérios...
- A Bláblárina Silva também. Ele está chateada com o sumiço do Meio Ambiente...
- Sim, passaram uma moto-serra no Meio Ambiente!
- Exato! Ainda bem que não foi nela...
- A gente já sabia que o Paulo Guedes...
- O Posto Ipirangа..., Vasco... Ninguém sabe quem é Paulo Guedes...
- É. Vamos ver se ele tem mesmo tudo o que o Posto Ipirangа tem lá dentro...
- Sim, é preciso conferir ainda, Vasco...
- Desse jeito, o Bolsonaro vai ter que ir ao Ministério da Fazenda despachar com o Paulo Guedes...
- Quando o Paulo Guedes tiver tempo na agenda...
- O que eu quero saber é quem vai vigiar a Globo...
Globo Overseas, Vasco, por favor. Precisão!
- Sim, essa mesma, a da Holanda.
- O que é que tem a Overseas, Vasco?
- O que eu quero saber é quem vai mandar nas Comunicações...
- Ora, as Comunicações ficam debaixo da Ciência e Tecnologia... Desde o tempo do sabidório Kassab.
- O Quibe da Odebrecht...
- Sim, o próprio.
- Mas, o general Mourão disse que as Comunicações podem ficar no Super-Ministério da Infra.
- Infra? Não seria melhor na Supra?
-Não! Isso, não! Supra lembra o Jango, ansioso...
- Logo quem...
- Na verdade, prefiro que a Globo fique nas Comunicações...
- Então, é o astronauta que vai fiscalizar a Globo!
- Quando descer à Terra!
Pano rápido!
PHA

quarta-feira, 17 de outubro de 2018


UOLEleições 2018

Em propaganda na TV, PT associa Bolsonaro à ditadura e à tortura

Ana Carla Bermúdez
Do UOL, em São Paulo 
Em seu programa eleitoral na TV na noite desta terça (16), a campanha de Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência, associou seu adversário Jair Bolsonaro (PSL) à tortura e à ditadura militar (atenção: as imagens do vídeo acima são fortes).
"Você sabe o que é tortura?", questiona o locutor. Em seguida, enquanto o vídeo mostra cenas do filme Batismo de Sangue, que reproduzem práticas de tortura utilizadas durante a ditadura militar no Brasil, o locutor afirma que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, "maior ídolo de Bolsonaro", foi "o torturador mais sanguinário do Brasil".

O vídeo traz, então, um depoimento de Amelinha Teles, militante que foi presa e torturada nas dependências do DOI-CODI.
Leia também:
"Eles colocam muitos fios elétricos descascados dentro da vagina, colocam dentro do ânus. Você grita de dor e você perde o equilíbrio e cai no chão. Eles vêm em cima de você, mesmo, para te estuprar", relata.
Amelinha afirma ainda que o momento de "maior dor" sofrido por ela foi quando Ustra levou seus dois filhos até a sala de tortura onde ela estava "nua, vomitada e urinada".
A propaganda lembra que Bolsonaro já homenageou Ustra no Congresso Nacional e traz declarações em vídeo em que o deputado diz ser "favorável à tortura".
Em seu voto a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, o deputado federal declarou: "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra".
O locutor então afirma que Bolsonaro "nunca escondeu que é contra a democracia e defendeu a morte até de inocentes".
"Através do voto, você não vai mudar nada nesse país. Você só vai mudar, infelizmente, quando um dia nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro", diz o deputado, em uma entrevista em vídeo, antes de concluir: "se vai morrer alguns inocentes, tudo bem".
O vídeo ainda mostra imagens do deputado federal ensinando uma criança a fazer um gesto de arma com as mãos e diz que seguidores de Bolsonaro "espalham o terror pelo Brasil".
Lembrando os casos de agressão que vêm sendo relatados no país nos últimos dias, desde o fim da campanha do primeiro turno, a propaganda mostra uma notícia sobre o assassinato do mestre Romualdo Rosário da Costa, o Môa do Katendê. Testemunhas relataram que ele foi vítima de facadas desferidas por apoiadores de Bolsonaro após ter defendido o voto no PT. O acusado admitiu o crime, mas negou a motivação política.
"Bolsonaro. Quem conhece a verdade, não vota nele", diz a mensagem final do vídeo.
A peça também associa Bolsonaro a Steve Bannon, ex-estrategista do presidente norte-americano Donald Trump que é ligado a movimentos supremacistas, mostrando uma manchete de reportagem em que Eduardo Bolsonaro, filho do deputado, relata que Bannon iria "ajudar seu pai".
O vídeo classifica Bannon como "acusado de sabotar regimes democráticos pelo mundo" através do uso de fake news que espalham "medo e violência para vencer eleições".

Bolsonaro usa fala de Cid Gomes

Em sua propaganda eleitoral, Bolsonaro atacou o PT. O candidato fez uso de uma fala do senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão do candidato derrotado à Presidência Ciro Gomes (PDT), que fez duras críticas ao PT durante ato de lançamento da campanha de Haddad em Fortaleza na noite de ontem.
Em seu discurso, Cid afirmou que o PT vai "perder feio a eleição" por não admitir os erros cometidos pelo partido enquanto ocupou a Presidência. Na peça, as falas de Cid foram classificadas como "a verdade que o PT não aceita".
"Tem que pedir desculpas. Tem que ter humildade. Tem que ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira", disse Cid.

A peça da campanha de Bolsonaro ainda diz que a rejeição de Haddad "não para de subir" porque, nessa eleição, "é Brasil contra o PT". Ao fundo, aparece uma imagem de Haddad ao lado do ex-presidente Lula, com a hashtag "#PTNão".
Bolsonaro aparece próximo ao fim do vídeo, quando defende ser preciso "jogar pesado na questão da segurança pública". O candidato diz que pais e mães não podem mais se preocupar se seus filhos voltarão "sãos e salvos" para casa.
"O Brasil tem tudo para ser uma grande nação. Depende de cada um de nós, ou seja, o futuro está em nossas mãos", afirma.
A peça também traz críticas diretas a Haddad, afirmando que "o povo não quer mais saber de propostas que nunca são cumpridas, como as que Haddad fez em São Paulo".
A locutora, então, convida o eleitor a comparar os programas dos candidatos para saber "quem realmente está em defesa da família, a favor do Brasil".
Pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira (15) mostrou Jair Bolsonaro com 59% dos votos válidos contra 41% de Fernando Haddad. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.


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