quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Zé de Abreu, o autoproclamado presidente do Brasil, quebra o Twitter

 
O ator José de Abreu, autoproclamado presidente do Brasil, continua quebrando o Twitter no Brasil pelo terceiro dia consecutivo.
Também chamado de “Zé de Abreu”, o ator já começou escolher ministros e revogar decisões do presidente interino Jair Bolsonaro (PSL).
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Dentre as medidas que ainda estuda decretar nas próximas horas está a concessão de asilo político para seu homólogo Juan Guaidó — igualmente autoproclamado presidente da Venezuela.
O governo autoproclamado de Zé de Abreu ganhou apoio até do ex-presidente Lula, escolhido para a chefia da Casa Civil, cargo que ocupará assim que deixar a injusta prisão em Curitiba: “Sou cabo eleitoral do Zé de Abreu”, escreveu o petista ao novo governante do Brasil.
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Reconhecido por governos da Patagônia ao Canadá, Zé de Abreu planeja a suspensão da reforma da previdência (fim da aposentadoria) e a revogação da reforma trabalhista (trabalho semiescravo) aprovada durante o golpe de Michel Temer (MDB).
Empolgado pelo apoio popular, segundo todos os institutos de pesquisas sérios, Zé de Abreu levantou a tag #PresidenteLaranjaNuncaMais para a mais comentada nesta quinta-feira (28), vésperas de Carnaval.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Gramática do medo no pronunciamento em que Bolsonaro anuncia que Bebianno foi demitido: números da fala e abstração

Publicada: 19/02/2019 - 3:39
O presidente Jair Bolsonaro decidiu gravar um vídeo em que, vou inventar um verbo, “desexplica” a demissão de Gustavo Bebianno, apeado da Secretaria-Geral da Presidência. Segue abaixo. Transcrevo a íntegra de sua fala, mas separada em partes, que merecem comentários específicos. Desde já a declaração integra a galeria de mimos do mais explícito surrealismo político. Vamos ver. analiso a fala do presidente por trechos:
Comunico que, desde a semana passada, diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação. Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal-entendidas de parte a parte, não sendo adequados prejulgamentos de qualquer natureza.”
Bem, meus caros, quem não soubesse do que falava o presidente ficaria sem saber. Num trololó de 141 palavras, consumiram-se 39 (27,7%) sem que se identificassem “quem, quê, quando, como, onde e por quê”. Medida a conversa mole em caracteres, é ainda pior: dos 770, ignorados os espaços, 238 de ocuparam do nada: 31%. Ou por outra: o presidente gastou um terço de uma mensagem já enxuta para estocar o vento — ele realizou tal ambição.
Há, no trecho, oito substantivos, digamos, puros. Sete são abstratos: “pontos de vista, questões (duas vezes), necessidade, reavaliação, incompreensões, prejulgamentos”. Só a palavra “semana” escapou da estratosfera. Isso empurrou para a abstração todos os adjetivos e expressões adjetivas, a saber: “diferentes, relevantes, mal-entendidas, adequados, de qualquer natureza. Só escapou um — “passada” — que qualificava o único substantivo concreto do trecho: “semana”.
Isso tem nome: no que concerne ao discurso, é a gramática da enrolação. No que diz respeito à política, é a gramática do medo. Bolsonaro se obriga a dizer, mas não a falar; tem de articular frases em que as palavras ocupam função sintática, mas seu conteúdo tem de ser vazio como sua biblioteca. Numa modulação que entendo ter caráter adverbial, resolveu dividir a culpa com aquele que começaria a ser demitido no trecho seguinte. Disse que as incompreensões e questões mal-entendidas eram “de parte a parte”.
O discurso do pavor teve sequência. Antes que anunciasse a demissão propriamente, Bolsonaro resolveu deixar claro que não via motivos para Gustavo Bebianno ser demitido. Disse, aos solavancos, que é o modo como ele fala e lê:
“Tenho que reconhecer a dedicação e comprometimento do sr. Gustavo Bebianno à frente da coordenação da campanha eleitoral em 2018. Seu trabalho foi importante para o nosso êxito. Agradeço ao sr. Gustavo pelo esforço e empenho quando exerceu a direção nacional do PSL, e continuo acreditando na sua seriedade e qualidade do seu trabalho. Reconheço também sua dedicação e esforço durante o período em que esteve no governo.”
Bem, são atributos lembráveis à hora da nomeação, não da demissão. Como a maioria das escolhas foi anunciada pelo Twitter, ninguém mereceu do sr. presidente da República palavras tão elogiosas. O que vai dito acima explicaria, então, por que o presidente entregou a Bebianno a Secretaria-Geral da Presidência, não por que dela o apeou com os requintes da desonra. Na quarta-feira, o presidente retuitou a mensagem do filho Carlos, que chamara o agora ex-ministro de mentiroso. Um mentiroso coberto de elogios.
Sim, todos sabem: Bebianno, neste primeiro momento, cobrou do antigo chefe uma espécie de desagravo. Não se sabe o que virá depois. Busca se blindar um pouquinho da artilharia dos Irmãos Malvadinhos. Para todos os efeitos, o ex-ministro foi elogiado pelo pai de todos.
E, na sequência, vem o desfecho impossível. Porque, então, Bebianno é dono de todas aquelas excepcionais qualidades, anunciou o chefe da nação:
Como presidente da República, informo que, na data de hoje, tomei a decisão de exonerar o sr. ministro-chefe da Secretaria-Geral. Desejo ao sr. Gustavo Bebianno meus sinceros votos de sucesso em sua nova jornada”.
Teria exonerado Bebianno por sua “dedicação”? Por seu “comprometimento”? Pelo “esforço”? “Pelo empenho”? “Pela seriedade”? Ou “pela qualidade do seu trabalho”?
Segundo o porta-voz, na raiz da decisão, está o “foro íntimo”.
A gramática do medo fala por si. Um ministro de Estado é enxovalhado por um dos filhos do presidente e, depois de fartamente elogiado, é demitido pelo chefe por motivos de “foro íntimo”.
Mantenho a minha proposta: os que que pretendem que esse governo chegue a algum lugar deem um jeito de protegê-lo, então, de Bolsonaro. E de proteger Bolsonaro até de si mesmo.
Quanto a Bebianno, fiquem certos: ainda saberemos por que a demissão foi tão rápida, mas por que demorou tanto.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019