O PSB do Ceará e suas idiossincrasias eleitorais
Com o título “Por causa da mulher”, eis artigo do publicitário e poeta Ricardo Alcântara abordando a difícil relação do governador Cid Gomes com o seu próprio partido. Isso, a partir do momento em que o presidente municipal da legenda, Sérgio Novais, lançou a irmã, deputada estadual Eliane Novais, como pré-candidata à Prefeitura de Fortaleza. Cid tem simpatias por Camilo Santana, que é do PT. Confira:
Uma das principais características do governo Cid Gomes é a convergência política que ele construiu, garantindo oportunidades na administração à maioria dos partidos com representação na Assembleia Legislativa.
Quase não há oposição no Ceará, mas, curiosamente, parte agora de dentro do próprio partido do governador a contestação mais forte à sua liderança, levada a efeito pelos chamados “históricos” do PSB no qual se abrigou.
Sérgio Novaes, que senta à direita da prefeita Luizianne Lins, lançou o nome de sua irmã, a deputada Eliana Novaes, como candidata à prefeitura. Cid Gomes, principal liderança do partido no estado, sequer foi consultado.
A reação era previsível. A faca de dois Gomes cortou com o outro lado: foi Ciro, irmão do governador, quem saiu em defesa de outros nomes – o deputado Roberto Cláudio e até o petista (pero no mucho) Camilo Santana.
Noves fora a mise en scène, nem o PFG – Partido dos Ferreira Gomes – pretende lançar candidatura alguma, nem Eliana Novaes é candidata prá valer a nada: em comum, ambos torcem para manter a aliança com o PT.
Afinal, o que disputam, se desejam o mesmo? Explica-se. O PT de Cid é um, o PT que agrada aos Novaes é outro. Ao contrário destes, Cid aceita apoiar um candidato petista, desde que seja alguém alheio ao círculo da prefeita.
A candidatura de Eliana Novaes é apenas uma manobra para garantir ao diretório municipal autonomia no apoio ao nome que Luizianne vier a indicar à sua sucessão, já por ela qualificado como o “poste sem luz”.
O governador, ao contrário, pretende aproveitar o processo sucessório para espanar o joio luizianista para fora do farnel de trigo do petismo, onde prefere dialogar com as tendências mais moderadas do partido.
Não se trata necessariamente de uma rejeição de caráter ideológico – para o perfil pragmático do governador, aquele seria um aspecto de relevância secundária. As diferenças devem ser buscadas em outras dimensões.
A primeira, é de estilo quanto à gestão. Cid Gomes e Luizianne Lins, enquanto governador do estado e prefeita da capital, nunca acertaram o passo. É extensa a lista de desencontros no modo e na visão dos fins.
A segunda, de caráter eleitoral, é que o governador não está seguro de que a prefeita alcançará o período de escolha do candidato da frente com popularidade suficiente para que possa impor suas preferências.
Em miúdos, Cid quer a aliança, mas não deseja mantê-la a qualquer custo, o que significaria garantir, a despeito de todo o desgaste, espaço determinante à prefeita na definição dos rumos futuros da aliança.
No momento, Cid Gomes projeta para o eleitorado de Fortaleza uma imagem mais estável que Luizianne – menos aguda, é verdade, mas igualmente menos ruidosa e de maior credibilidade – e usará esse capital, se preciso.
Mas, pelo pouco que diz e o modo como se move, não é o que deseja ele, pois implicaria em comprometer a estabilidade política de seu governo em sua fase final e entregar ao imponderável os rumos de sua própria sucessão.
Do episódio, fica, no momento, a constatação de que, por ironia, o mesmo governador que praticamente dizimou a oposição ao seu governo não consegue neutralizar a oposição que resiste dentro do seu próprio partido.
…e tudo isso por causa daquela mulher.
* Ricardo Alcântara,(blog Eliomar de lima)
COMENTÁRIO MEU:
A deputada Eliane Novaes que é da ala histórica do PSB, motivada pela instância do partido da capital, partiu na frente com todo gás. Porém, esbarrou na força do governador, que está querendo apoiar o secretário das cidades, Camilo Santana.
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