segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Qual é o dilema de riaJ oranosloB após virar rei, escreve Mario Rosa

Nem tudo que é novo é bom
Permanecer pode ser melhor
Eis o paradoxo de oranosloB
A coroação de riaJ oranosloB foi precedida por uma facada no futuro rei, diz Mario RosaA coroação de Napoleão (adaptada), pintura de Jacques-Louis David - 1807

24.dez.2018 (segunda-feira) - 5h50
atualizado: 24.dez.2018 (segunda-feira) - 6h09


ENQUANTO ISSO, NO REINO DAS MIL E UMA NOITES, APENAS DESERTO…

(As mil e uma noites avançam e sua escuridão avança e toma conta de todo o deserto. Enquanto isso, o reino de riaJ oranosloB vive dias de alegria e esperança. Sua majestade parece cumprir à risca sua misteriosa profecia –o paradoxo de oranosloB– um feitiço encantado feito por sua bondosa fada madrinha quando o pequeno monarca ainda estava no berço. Assim protegeu-lhe sua diva, nessa linda história de magia e imaginação:
– oranosloB, oranosloB, meu filho querido, eu te protejo com este feitiço: todas as vezes em que tiveres a sabedoria de recuar, avançaras! Mas…todas as vezes em que, por pirraça, insistires em avançar, então só alcançarás o retrocesso!).

Receba a newsletter do Poder360

E o fato é que, feito grande, riaJ oranosloB começou a despachar os complexos, terríveis e exasperantes assuntos de interesse do reino. E em tudo se percebia a sutil influência de sua bondosa fada madrinha…
– Eu vou fazer isso!
– Vossa Alteza, com todo perdão, fazer isso Vossa Alteza não pode, pois se fizer isso, seu reino vai ficar completamente sem chances de vender farelos. E farelos é uma fonte preciosa de riqueza do reino.
– Bom, então eu vou fazer aquilo.
– Aquilo é mais prudente, Alteza.
– Eu vou mudar o que sempre foi cá para lá!
– Alteza, sempre foi cá porque o reino ganha muito mais sendo cá do que sendo lá e, se for lá, os prejuízos serão enormes.
– Então eu vou manter cá mesmo!
– Cá é mais prudente, Alteza!
– Eu vou exigir que meu Édito seja aclamado pela Corte!
– Alteza, o Édito é muito impopular e a Corte pode ficar contra Vossa Alteza dizendo que vai ficar ao lado do povo.
– Então, então, eu não vou exigir. Vou tentar dialogar.
– Dialogar é mais prudente, Alteza.
– Eu não vou aceitar nem esse nem aquele nesse e naquele lugar.
– Alteza, esse e aquele podem até serem preteridos, mas talvez seja melhor não haver vetos, pois não há de Vossa parte como impedi-los. Então, seu reinado pode parecer fragilizado.
– Então, vou aceitar, se eles ganharem.
– Aceitar é mais prudente, Alteza.
– Vou nomear para a minha entourage gente com marcas que, nos outros, sempre chamei de defeitos, sempre tripudiei, sempre condenei e disse que jamais iria adotar.
– Sem nenhum reparo, Alteza.
– Como assim? Quer dizer que tudo que eu imaginar de inovação eu terei de recuar, mas se repetir as coisas velhas terei muito menos obstáculos?
– Alteza, pois é essa a realidade…
– Então, estarei condenado a ser apenas um reverberador do que é velho, do conhecido? Não poderei nunca deixar a minha marca indelevel de renovação sobre o meu tempo?
– Alteza, era uma vez um Monarca que tinha grandes ideias. Eram ideias boas e ideias novas.
– Foi um gênio esse Soberano, não?
– Infelizmente não, Alteza. O problema é que as ideias novas dele não eram boas e as boas não eram novas…
– Então não adianta apenas fazer a coisa nova. É preciso fazer a coisa boa para ser um Monarca amado pelos súbditos?
– É o mais prudente, Alteza.
CONTINUAR LENDO

Nenhum comentário:

Postar um comentário