A pós uma semana de manifestações massivas por todo o País, os brasileiros já começam a sair de sua perplexidade inicial sobre as causas do movimento. Os cidadãos pedem o respeito dos poderes públicos a suas justas demandas, querem participação nas decisões políticas e administrativas mas, sobretudo, querem fortalecer e ampliar a democracia, não enfraquecê-la. Mas há, estranhamente, uma articulação extremamente minoritária e obscura – simbolizada pelas próprias máscaras por trás das quais se esconde – tentando deflagrar o caos, desmoralizar o movimento das maiorias e provocar a ação repressora do Estado. Com qual propósito?
Seja qual for o propósito, este é contrário e desrespeitoso à vontade das maiorias democráticas e tem desprezo por elas. Evidentemente, dissintonias espasmódicas e o atabalhoamento inicial de manifestantes noviços na arte de protestar podem ser compreendidos e absorvidos pela sociedade brasileira, mas o que se tem verificado é uma ação deliberada de estranhos brutamontes manipulando pessoas que estão estreando na via da legítima ação política e cidadã.
O jornalista Jânio de Freitas, da Folha de S.Paulo – um dos mais experientes profissionais e testemunha dos processos políticos no Brasil, nos últimos 50 anos – já havia chamado a atenção, na última quinta-feira, para essas estranhas erupções de violência cronometricamente articuladas e que “sugerem haver uma segunda mobilização, de fonte desconhecida, com total independência de fins e de ação. E aí está um grande perigo”. Coincidentemente, elas se encaixam com “falhas” suspeitas na articulação de forças de segurança, “omissões” inexplicáveis ou irrupções súbitas de truculência de elementos que se autonomizam dentro da tropa.
Ora, o País não está oprimido por uma tirania, não vive uma crise econômica incontrolável (ao contrário, vive uma expectativa otimista em relação à ascensão social que se traduziu do resgate de mais de 40 milhões da pobreza) não tendo, assim, motivos racionais para a radicalização transbordante com que se intenta revestir o movimento majoritário, pacífico e democrático. Identificar esses agentes fascistas e a quais propósitos servem – contendo-os pelo braço da lei – é tudo o que a sociedade pede neste momento.
(O POVO / Editorial)
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