A lição de Epicteto: aceitar os fatos é um passo essencial para a serenidade
Postado em 28 jun 2015
Epicteto, nascido escravo e só liberto depois de adulto, foi uma das vozes mais influentes da filosofia da Antiguidade. Ele viveu nos primórdios da Era Cristã, de 40 a 125. Não escreveu um único livro. Seu pensamento é conhecido graças a um discípulo, o historiador Arriamo. Ele teve o cuidado de anotar as ideias de seu mestre, uma ação pela qual a humanidade lhe será eternamente grata, e depois transformá-las em dois livros, Entretenimentos e Manual. Seu tamanho intelectual é tal que o imperador-filósofo Marco Aurélio, o último grande comandante do Império Romano, escreveu que um dos acontecimentos capitais de sua vida foi ter tido acesso às obras de Epicteto.
Para ele, o passo básico da vida feliz é aceitar as coisas como elas são. Revoltar-se contra os fatos não altera os fatos, e ainda traz uma dose de tormento desnecessária. “Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se querê-los como ocorrem: assim sua vida será feliz”, disse Epicteto. (Séculos depois, o pensador francês Descartes escreveu uma frase que é como um tributo à escola de Epicteto: “É mais fácil mudar seus desejos do que mudar a ordem do mundo”.) Não adianta se agastar contra as circunstâncias: ela não se importam. Isso se vê nas pequenas coisas da vida. Você está no meio de um congestionamento? Exasperar-se não vai dissolver os carros à sua frente. Relaxe, respire fundo. Caiu uma chuva na hora em que você ia jogar tênis com seu amigo? Amaldiçoar as nuvens não vai secar o piso. Que tal uma sessão de cinema em vez do tênis?
Outro ensinamento seu lembrado até hoje em livros de aministração é que só devemos nos ocupar efetivamente daquilo que está sob nosso controle. Você cruza uma manhã com seu chefe no elevador e ele é efusivo. Você ganha o dia. Você o encontra de novo e ele é frio. Você fica arrasado. Daquela vez ele estava bem-humorado, daí o cumprimento caloroso, agora não. Ora, o estado de espírito de seu chefe não está sob seu controle. Você não deve nem se entusiasmar com tapas amáveis que ele dê em suas costas e nem se deprimir com um gesto de frieza. Você, em suma, não pode entregar aos outros o comando de seu estado de espírito.
“Não é aquele que lhe diz injúrias quem ultraja você, mas sim a opinião que você tem dele”, disse Epicteto. Se você ignora quem o insulta, você lhe tira o poder de chateá-lo, seja no trânsito, na arquibancada de um estádio de futebol ou numa reunião corporativa. Não são exatamente os fatos que moldam nosso estado de espírito, pregou Epicteto, mas sim a maneira como os encaramos. Um dos desafios perenes da humanidade, e as palavras de Epicteto são uma lembrança eterna disso, é evitar que nossa opinião sobre as coisas seja tão ruim como costuma ser. A mente humana parece sempre optar pela infelicidade. E foi contra isso, e não os grilhões, que o escravo genial se rebelou, para sorte de todos nós.
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