Cartas de Paris: Maio de 68 e a maconha
Eu decidi fazer um parênteses na minha intenção de escrever sobre as eleições francesas porque um tema da atualidade brasileira me chamou a atenção.
Observei que alguns estudantes da Universidade de São Paulo estão se manifestando pela legalização da maconha, aliás, já faz tempo que eles andam brigando por isso, fazendo greves e gerando muita polêmica.
No ano de 68, na França, entre os meses de maio e julho, uma revolta espontânea, política mas principalmente cultural e social tomou conta do país. A revolta se dirigia contra a sociedade tradicional, o capitalismo e contra o governo do general Charles de Gaulle.
Ela também começou entre os jovens universitários, só que de Paris, e tomou conta do país, dando origem ao mais importante movimento social da história da França no século XX. O movimento ficou conhecido como Maio de 68.
Nessa época a França era um país muito religioso e paternalista. A maioria dos universitários vinha de famílias burguesas, nos colégios havia salas para meninos e salas para meninas e a pílula anticoncepcional, apesar de permitida desde 1967, era pouco usada.
Durante o movimento, os estudantes ocuparam as universidades, fizeram barricadas no bairro de Saint Germain. O Partido Comunista e os sindicatos não entenderam no começo o que acontecia, afinal, a revolução tinha que vir de trabalhadores e não de estudantes.
Mas, posteriormente, se juntaram ao movimento e proclamaram uma greve geral. Em todo o país a palavra foi liberada e debates eram promovidos no Teatro do Odeon e nos anfiteatros da Sorbonne.
O movimento conseguiu grandes mudanças políticas e trabalhistas, mas sem dúvida a grande influência de Maio de 68 se deu no campo sócio-cultural. A sociedade francesa se abriu ao diálogo social. A revolta simbolizou a entrada da França na modernidade depois das guerras mundiais.
O que pouca gente sabe é que um dos estopins da revolta foi bastante pueril. A primeira greve do movimento começou porque os estudantes da universidade de Nanterre queriam dormitórios mistos para rapazes e moças.
Reivindicação muito menos política que a legalização das drogas, que é um assunto extremamente discutido em vários meios jurídicos e políticos do mundo inteiro neste momento.
Eu acredito que os estudantes da melhor universidade do Brasil têm algo a dizer sobre isso. Além disso, uma sociedade tradicional e paternalista, que ainda está votando a legalização do aborto de fetos anencéfalos, está urgentemente precisando de reformas. Quem sabe não é desta vez.(Noblat)
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras
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