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Em sua última tarefa em Barcelona, Fernando Morais entrevista o brasileiro Flávio Carvalho, diretor da Associação de Amizade Brasil-Catalunha. “A direita espanhola sempre precisa de um inimigo centrado. Lembra que era ETA? Agora não tem mais ETA”.
Por Fernando Morais em 06 de outubro às 19h11Flávio Carvalho: Eu pensei que já tinha vivido um bocado de coisas difíceis e duras na minha vida, mas eu fiquei muito impressionado com a repressão que eu vi. Tem muita gente que vem do Brasil, de movimento social do Brasil. Eu sabia um pouco que ia ser, mas superou um pouco as minhas expectativas. Eu acho que muita gente está dizendo hoje que sabia, mas superou as expectativas.
Fernando Morais: Você diz a repressão?
Flávio Carvalho: Dos dois lados, Fernando. Porque tinha uma demonstração visceral, pessoas que estavam jogando a vida, sabe? E por outro lado, no confronto, eu também vi a polícia política, eu chamo de polícia política a polícia de Rajoy. Ela veio para fazer o que ela tinha, aí eu não tenho ilusões que ela faria outra coisa que não fosse chegar e entrar de sola. Porque ela sabia que cada porrada que ela dava, ela tinha o apoio grande de parte considerável da Espanha que é aquela que vota no Rajoy.
Fernando Morais: Uma experiência inédita, que é uma tentativa de independência de uma região no coração da Europa, fronteira da França com a Espanha, e não há movimento armado na Catalunha, como havia, por exemplo, no país Basco. Na sua opinião, quais são as chances reais de a Catalunha obter a independência e se separar da Espanha?
Flávio Carvalho: Ou internacionaliza a questão, como a Catalunha soube fazer em outros tempos, na Guerra Civil, no enfrentamento do Franquismo que foi uma das ditaduras mais longas ocidentais, então, ou consegue internacionalizar, que é o papel de vocês, da imprensa internacional, então, se for um processo interno vai entrar num beco sem saída, como eles dizem aqui. O pau vai comer, vai ter muito confronto. Eu tenho medo da capacidade que tenha… A União Europeia eu não tenho muito expectativa não. Eu estou na questão dos imigrantes aqui, o que a gente brigou com a União Europeia com a questão dos refugiados e a União Europeia fechou os olhos. A Espanha é o segundo país com mais investimento privado no Brasil. Está tirando muito dinheiro lá também. A terceira parte desses investimentos são daqui da Catalunha. A Europa sabe que essa é uma região que tem dinheiro. Então, se vai por esse lado, não, melhor que não. Porque se é por interesse econômico existem hoje pessoas na União Europeia que dizem: país pequeno vai gerar mais, e para que ficar atrelado a Madri para tudo? Para descongestionar o aeroporto tem que ligar pro cara em Madri para saber o que fazer. Eu quero é turista, eu quero é dinheiro, eu quero é viabilidade econômica. O outro lado é você conseguir internacionalizar pelo lado da esquerda.
Fernando Morais: Você concorda comigo que abriu-se uma ferida que provavelmente vai levar muito tempo para fechar. Quando a gente vê a polícia usando métodos franquistas de repressão, de invadir gráfica, de invadir escola, de invadir gráfica, bater em criança, bater em idoso. Polícia batendo em polícia, batendo em bombeiros. Isso é uma ferida para os catalães que dificilmente vai fechar. Você concorda?
Flávio Carvalho: Atravessou aqui uma linha. A direita espanhola sempre precisa de um inimigo centrado. Lembra que era ETA, agora não tem mais ETA. Não tem como eles dizerem agora que estão brigando com terroristas, mas eles sabem que eles precisam.
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