O legado de Leonel Brizola
Com o título “O grande exemplo de brasilidade”, o jornalsita Messias Pontes aborda a trajetória e o legado de Leonel Brizola para o País. Se vivo fosse, teria o líder político gaúcho completando 90 anos.
Poucos homens públicos no Brasil tiveram um papel tão importante na defesa dos interesses nacionais como Leonel de Moura Brizola. Filho de camponeses humilde de Carazinho, interior gaúcho, onde nasceu há exatos 90 anos, em 22 de janeiro de 2012, Brizola teve uma infância das mais difíceis, mas nunca desistiu dos estudos, chegando a se formar em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1949. Filiou-se ao PTB em 1945, e dois anos depois já era deputado estadual.
Herdeiro natural de Getúlio Vargas, Brizola foi prefeito de Porto Alegre e governador do seu estado, tendo liderado a Campanha da Legalidade após a renúncia do presidente Jânio Quadros em 24 de agosto de 1961. A cúpula das Forças Armadas, a soldo dos interesses do imperialismo norte-americano, tentou impedir a posse de vice-presidente João Goulart, democraticamente eleito com expressiva votação, porém a campanha encetada por Brizola, a partir da Rádio Guaíba, garantiu a posse de Jango, seu cunhado.
Brizola queria tão somente a legalidade, ou seja, que a Constituição de 1946, em vigorà época, fosse respeitada. Para tanto, era preciso que o vice-presidente da República, com a vacância do cargo em função da renúncia do titular, assumisse a Presidência da República com amplos poderes. Contudo os setores mais reacionários das Forças Armadas, seguindo a orientação do embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, tentaram impedir a sua posse e até mesmo o seu desembarque no País, vindo de visita à República Popular da China em missão oficial.
A Campanha da Legalidade foi um movimento cívico-militar que durou 14 dias, liderado por Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, e pelo general Machado Lopes. Os pronunciamentos dele eram transmitidos a partir de um estúdio montado no porão do Palácio do Governo, sob orientação do engenheiros Homero Simon, que cuidou para que as rádios do interior retransmitissem a programação.Em ondas curta, a legalidade alcançava ouvintes em outros estados e mobilizava a população.
Aqui em Fortaleza era a Rádio Dragão do Mar, pertencente ao empresário e deputado federal Moisés Pimentel, quem retransmitia a programação da legalidade sob a responsabilidade do grande jornalista Blanchard Girão que, após o golpe de 1º de abril de 1964 teve seu mandato de deputado estadual cassado, sendo preso no 23º BC.
Brizola foi o único político brasileiro a governar dois estados: Rio Grande do Sul, em 1958, e Guanabara, em 1982. depois da tentativa da Rede Globo de Televisão, em conluio com a ProConsult – empresa contratada para a totalização dos votos, para impedir a sua vitória. Ao descobrir a falcatrua, Brizola convocou a imprensa internacional e impediu que o crime eleitoral se consumasse; Em 1990 foi eleito pela segunda vez no Rio de Janeiro, tendo sofrido uma campanha infame da Rede Globo.
Diante da intransigência dos militares golpistas que não queriam permitir a posse do vice presidente João Goulart, Brizola se entrincheirou no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, mobilizou a Brigada Militar e distribuiu armas para a população resistir. Milhares de pessoas aderiram ao chamamento do governador gaúcho e, com o apoio do general Machado Lopes, comandante do III Exército que não acatou a ordem de cima para atacar Brizola e adere ao movimento, garante a posse de Jango, mesmo sob o parlamentarismo, portanto como chefe de Estado e não de Governo.
Como prefeito e governador Brizola notabilizou-se pelo investimento maciço em educação e na intransigente defesa dos interesses nacionais e populares. Em quatro anos como governador gaúcho, de 1959 a 1963, ele criou uma rede de ensino primário e médio que atingiu os municípios mais distantes, com 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios, colégios e escolas normais, totalizando 6.302 novos estabelecimentos de ensino. Com isso ele abriu 688.209 nova matrículas e admitiu 42.153 novos professores.
Sempre sob a bandeira da legalidade, Leonel Brizola enfrentou forças poderosas mas nunca capitulou. Como governador do Rio Grande do Sul ele estatizou duas empresas norte-americanas cujas concessões estavam vencidas: a Companhia Elétrica Riograndense, filial da Bond and Share que se negava a fazer novos investimentos a menos que o governo aceitasse as suas exigências de liberação de tarifas e concessão por mais 35 anos. Na época faltava energia para as indústrias e para a cidade de Porto Alegre.
A mesma postura teve com relação à Companhia Telefônica Riograndense, filial da ITT que, a exemplo da Bond and Share, estava com a concessão vencida e exigia condições semelhantes para investir. Como não podia deixar de ser, Brizola enfrentou a ira do governo ianque e dos entreguistas tupiniquins albergados na União Democrática Nacional (UDN) e na grande mídia conservadora, venal e golpista. Os Diários Associados, de Assis Chateaubriand, encetaram uma campanha virulenta contra o líder nacionalista gaúcho.
Outro grande feito de Brizola como governador gaúcho foi o apoio e incentivo à reforma agrária, já que a Constituição do Estado garantia a entrega de terras aos agricultores, sempre que surgissem abaixo-assinados com o mínimo de uma centena de firmas. No período foram entregues mais de 14 mil títulos a camponeses sem terra, destacando-se as áreas de assentamento como Fazenda Sarandi, Banhado do Colégio, Caponé, Fazenda Itapoã, Taquari e Pangaré.
Como governador da Guanabara, Brizola criou no Rio de Janeiro os CIEPs – Centros Integrados de Educação Pública -, escolas de tempo integral que revolucionou a educação à época. Depois de deixar o governo essas escolas foram criminosamente extintas. Cassado logo após o golpe militar de 1964, exilou-se no Uruguai, retornando com a Anistia em 1979. Participou ativamente da campanha da Diretas Já, o maior movimento de massas do Brasil..
O grande erro das esquerdas em 1989 foi não ter apoiado a candidatura de Brizola a presidente de República e indicado Luiz Inácio Lula da Silva como vice. Se eleito, ele teria evitado a grande tragédia do neoliberalismo iniciada com Fernando Collor de Mello e continuado e aprofundado pelo outro Fernando, o Coisa Ruim,que cometeu o maior crime de lesa pátria que se tem notícia na história republicana. O Estado foi praticamente desmontado e o grande patrimônio público entregue a preço de banana, com financiamento do BNDES.
Se vivo fosse, Brizola com certeza estaria liderando movimento para a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Privataria proposta pelo deputado Protógenes Queiroz, do PCdoB de São Paulo, baseado no livro A privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que revela, com documentos, a verdade sobre ao maior assalto ao patrimônio público brasileiro. Certamente Brizola estaria denunciando os petistas que não assinaram o requerimento da CPI e que, pelo que se comenta em Brasília, tudo farão para impedir a instalação da Comissão.
Até nisso Brizola está fazendo falta. Ele foi, sem dúvida, o grande exemplo de brasilidade.
* Messias Pontes,
Jornalista, radialista e membro do PCdo B do Ceará.
-Eliomar de Lima.
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