terça-feira, 14 de agosto de 2012


Secretário admite deficit nas tropas, mas destaca inteligência

À frente da Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) há um ano e sete meses, Francisco José Bezerra Rodrigues fala de avanços na Polícia Civil, cujo efetivo achatado foi denunciado ontem pelo O POVO, e se diz confiante em dias melhores. Ele diz que outras secretarias também têm responsabilidade pelos altos índices de violência no Ceará, critica o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e afirma que quadrilhas atuantes em ataques a bancos em Minas Gerais influenciam o cenário do Ceará. Confira a entrevista exclusiva, concedida no gabinete do militar. A entrevista é do jornalista Bruno de Castro.
O POVO - A política de segurança do Ceará é fruto de quê?
Francisco Bezerra - Melhorar a estrutura é decisão política. Desde que assumiu, o governador cresceu os quadros da Polícia Militar em 4.085 homens. Mil estão em formação e mais 2.000 serão contratados. Até o fim do Governo, serão 7.285 novos PMs. Grande parte desse efetivo veio compor o maior programa, e isso é disparado, de policiamento comunitário (Ronda do Quarteirão) do Brasil. O Ministério da Justiça começa a colocar como parâmetro pros estados.
O POVO - E quanto à Civil?
Francisco Bezerra - O governador colocou pra dentro mais de 150 delegados e mais de 250 escrivães desde o início pra cá. Estamos formando 740 inspetores e 177 profissionais da perícia. Não há comparação de aumento efetivo com o que o governador fez. Mas ainda há deficiência. Não escondemos isso. Mas os índices de criminalidade estão além da simples presença policial. Passam por políticas em todos os âmbitos, reformulação de leis… Se eu colocasse um número ideal de policiais, talvez alguns índices permanecessem altos por falta de políticas em outros setores. A lei que trata o delito cometido por menores, por exemplo, é preocupante. Eles são responsabilizados de forma incoerente. O jovem entra no crime porque, muitas vezes, não tem apoio do poder público no esporte, na formação profissional… A gente não pode trabalhar a violência como uma responsabilidade policial. Isso é crueldade com o sistema!
O POVO - Secretário,seu tom não transfere responsabilidades?
Francisco Bezerra - Não! Bancos estão sendo assaltados… Digo que o efetivo do Interior é deficiente, mas o sistema dá a resposta no momento em que vai lá e prende.
O POVO - A questão é que o crime deveria ser evitado…
Francisco Bezerra - Temos três policiais na cidade. Com 20, aconteceria? Qual país consegue evitar todos os delitos? Você sabe como o primeiro mundo consegue evitar a criminalidade? Com educação. É um problema de todos. Não estou dizendo que é do outro, não. Estamos fazendo, ou, no mínimo, tentando fazer o que nos cabe. É preciso que cada um faça a sua parte. O Judiciário está soltando porque quer? Não. É porque tá na lei. Nos Estados Unidos, uma pessoa de dez anos comete um crime e vai responder. Por que aqui não pode?
O POVO - Como o senhor avalia a atuação do setor de inteligência da Secretaria? Especialistas criticam…
Francisco Bezerra - Tudo num sistema de segurança precisa melhorar a todo tempo. Porque trabalhamos com a sensação de segurança também, que nem sempre corresponde à realidade. Não quero mascarar nada. Não sei a que tempo você possa ter ouvido que o sistema não é valorizado…
O POVO - As próprias tropas do senhor falam isso…
Francisco Bezerra - Pois vou lhe dizer… Nunca se investiu tanto; nunca se prestigiou tanto a inteligência. Eu quadrupliquei o efetivo. Faço investimento de parcela significativa do meu custeio na área de logística.
O POVO - E tem dado resultado?
Francisco Bezerra - Absoluto resultado. Como você imagina que prendemos 149 assaltantes de bancos de profissão, quadrilheiros interestaduais?
O POVO - Em compensação, os ataques a bancos aumentaram consideravelmente…
Francisco Bezerra - Consideravelmente, não! Tem que definir o que é assalto a banco, assalto a carro-forte e arrombamento de caixa. Ações contra bancos? Podem ter aumentado. Aumentaram ações com explosivos? Muito bem. Mas como foi a resposta do sistema? Não estou transferindo culpa, mas isso não é uma questão só do Ceará. É interestadual. O que acontece em Minas Gerais, o pior problema do Brasil, atinge o Ceará.
O POVO - Atinge? Como?
Francisco Bezerra - Essas quadrilhas atuam de forma articulada. Um membro de lá se desloca pra cá. Vamos ver o que Minas fez! Temos mecanismos de levantamento de ações do crime. Resolvemos todos os sequestros de 2011 pra cá. Isso é o quê? Ação de inteligência. Servimos de referência.
O POVO - O senhor faz um prognóstico positivo, então, para os próximos anos?
Francisco Bezerra - Faço. Agora mesmo (tarde do último dia 10) apreendemos dois fuzis. Não se via isso antes.
O POVO - Como o senhor avalia sua chegada à SSPDS? O que mudou em relação ao secretário anterior (Roberto Monteiro)?
Francisco Bezerra - Não vou entrar na atuação dos que já passaram. Acompanho de perto a questão operacional. Vou à ocorrência. Acho que isso tem facilitado a condução da coisa. O acompanhamento pessoal mostra que você faz parte do sistema. Isso quebrou alguns paradigmas…
O POVO - O senhor se considera um “pé de boi”, então? (a expressão foi usada pelo governador Cid Gomes na escolha de Bezerra para o cargo)
Francisco Bezerra - Não, não é pé de boi… Pode até ser também. Eu cuido do que está sob minha tutela. Falo dos êxitos na inteligência. Temos uma pró-atividade maior. Os policiais estão mais atuantes. Eles sabem que o secretário faz parte do sistema e não é enganado por alguém do sistema intencionado a isso. Se sentem prestigiados e desempenham melhor a função.

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