As previsões de Itamar Franco, em 2000
Da IstoÉ - N° Edição: 1631 | 26.Dez.00Nos três cenários que podemos antever para o futuro do nosso país, dois nos preocupam muito.
O primeiro cenário é o da permanência no poder das forças políticas situacionistas que se identificam com o atual modelo globalizante, neoliberal e dependente.
Hoje, as decisões fundamentais da política econômica se voltam para a progressiva desnacionalização do Brasil, com o aprofundamento das consequências que o modelo acarreta em termos de quebra da soberania, progressivo esvaziamento da capacidade de autodeterminação, aniquilamento da identidade nacional, transferência para o Exterior do poder decisório sobre questões estratégicas e passividade diante de interesses financeiros internacionais cada vez mais vorazes.
Faz parte desse modelo a opção pelo Estado mínimo, com a rápida dilapidação do patrimônio público, o desmonte administrativo do poder público e o descrédito do servidor, objetivando eliminar os já frágeis controles sociais sobre as finanças nacionais e o destino do País.
Incorporam-na também outras medidas já bem conhecidas, como o conjunto de normas que, visando garantir e privilegiar os interesses do capital financeiro especulativo, impedem a União, os Estados e os municípios de adotar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida da população.
O segundo cenário é o da prevalência das forças que enfatizam pseudoconquistas sociais, comumente chamadas de políticas compensatórias. Esta opção é defendida por alguns setores como estratégia para viabilizar seu projeto de chegada ao poder. Além de exigir uma aliança espúria com forças reacionárias – que nada têm de ingênuas –, essa opção convalida o projeto neoliberal, transferindo o cerne do debate político das grandes questões nacionais para outras que são periféricas ou pontuais. Funcionam, desta forma, como válvulas de escape da tensão social e desmobilizam a sociedade.
O terceiro cenário – que se revela como o único possível para a sobrevivência da nossa identidade e da nossa autonomia – é o de enfrentamento do modelo. Para tanto, é preciso despertar as consciências para a realidade que nos cerca e um esforço de arregimentação de forças que representem a insatisfação com o rumo atual. Essas insatisfações existem, mas ainda se expressam de forma aleatória e estão politicamente desestruturadas. O choque da globalização, da invasão desordenada de capitais especulativos e da rápida expansão tecnológica (idealizada para outros ambientes e inadequada às nossas necessidades) parece ter desestruturado a capacidade crítica de importantes segmentos, colocando-os indefesos ante as novas forças que se agigantam.
É nosso dever, portanto, estimular o pensamento independente e formular proposta capaz de emular os mais diversos setores da sociedade, particularmente a juventude, que nos parece indefesa ante as perspectivas sombrias que se projetam sobre o seu futuro. Precisamos reunir forças de resistência em torno de um projeto claro de recuperação e de defesa do interesse nacional, em que o Estado assuma o papel de indutor do desenvolvimento e de executor de políticas públicas voltadas para a progressiva melhoria das condições de vida da nossa gente. Precisamos defender o que resta de patrimônio público e assumir posturas cívicas que mobilizem a sociedade em torno dos superiores interesses da coletividade, de recuperação da soberania e da liberdade. (Nassif).
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