Em política, os intoleráveis se toleram
Com o título “Puglismo semiótico”, eis artigo do publicitário e poeta Ricardo Alcântara. Ele avalia a relação entre o grupo político do governador Cid Gomes (PSB) com os aliados da prefeita Luizianne Lins (PT)
O hit brega “Entre tapas e beijos” talvez fosse a melhor trilha sonora para um enredo sobre o relacionamento esquizóide do grupo político do governador Cid Gomes com os aliados da prefeita Luizianne Lins.
Enquanto governador e prefeita evitam manifestar publicamente suas maiores diferenças, há gente escalada por pelo menos um deles para dar os recados mais duros e expor o custo da aliança a patamares alavancados.
Curioso é que, agora, a artilharia não obedece ao comando das lideranças do PT, cujo DNA registra a virulência como modelo recorrente. Os pugilistas estão ao lado do governador. Bem ao lado do governador, diga-se.
Enquanto o secretário Arialdo Pinho, cão de guarda de todos os contratos, dispara seus mísseis pelo twitter, o irmão Ciro Gomes usa os meios convencionais de imprensa para esculachar com a gestão de Luizianne.
Aos ataques frequentes, o PT vinha dando o calado como resposta por acreditar que, suportando em contrição os desaforos, conseguiria, ao fim, emplacar um nome do partido e manter a aliança na sucessão de Luizianne.
O observador dos fatos precisa compreender que o nome disso é Teatro. O estado de ânimo, manifestado com tinturas de espontaneidade, obedece a um roteiro onde se criam, no plano simbólico, gestos de simulação.
O que ocorre ali, mais do que um confronto substantivo, é, paradoxalmente, um diálogo e, através dele, o que menos se pretende é medir forças, como aparentemente é sugerido, e sim desenhar afirmações simbólicas.
Assim, o que mais objetivam os arroubos de uns é preservar uma “identidade positiva”, susceptível de desgaste na práxis de uma aliança com quem está, naquele momento, percebido com ressalvas pela opinião pública.
Para duvidar da sinceridade de Ciro Gomes quando se mostra indignado com as mazelas da cidade basta constatar que, mesmo no poder a mais de vinte anos, ele fala como se a sua atuação não fosse parte do problema.
Se as manobras de simulação serão, mais adiante, reproduzidas no campo de batalha eleitoral, vai depender menos do estado de ânimo pessoal e mais do que for indicado pela conjuntura: em política, os intoleráveis se toleram.
Em encontro recente, a direção petista decidiu não mais deixar tais críticas sem resposta. Com a contrita passividade como as suportaram, haviam já dado eles à percepção pública suficiente demonstração de boa vontade.
Agora, foi prometido ali praticar-se o método básico: “bateu, levou”. A reação imediata na outra margem da aliança foi um eloquente silêncio. Pois antes tarde do que nunca. Havia mesmo um forte odor de covardia no ar.(Eliomar)
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