Sem Kadafi, líbios abrem debate sobre futuro
Deborah Berlinck, O Globo
Com o ditador Muamar Kadafi morto, os líbios começam a acordar do pesadelo de oito meses de guerra e 42 anos de ditadura para pensar em algo que também vai mexer com suas vidas: que tipo de Líbia vão querer ver emergir das cinzas do ditador? Uma Arábia Saudita, onde uma família, petróleo e religião ditam as regras ? Ou uma Turquia, onde uma maioria muçulmana segue as regras de um Estado secular? Rokaya Elbadri, uma ginecologista de Trípoli, 53 anos, sabe que Líbia ela não quer:
- Coloque a religião fora disso! Não transforme religião numa arma. Não, não quero nada como Dubai (nos Emirados Árabes Unidos, ditado pela religião). Quero mais como a Turquia, mais aberto - disse ela, numa entrevista por telefone.
Como mulher e líbia com alta formação acadêmica, Rokaya, mãe de 4 filhos, assiste com temor a pessoas com discurso mais religioso tentando ganhar mais espaço no novo governo de transição do país.
- Com eles no poder, é sempre assim: todas as regras que mudam são contra mulheres. Não proíbem nada para eles mesmos! É sempre: "mulher tem que fazer isso, não pode fazer aquilo". Não quero isso - rechaça ela.
Rokaya quer que a nova Líbia estabeleça uma idade mínima para as meninas se casarem (hoje, muitas casam aos 16 anos) como forma de assegurar que elas tenham "as mesmas oportunidades que os homens" e consigam terminar os estudos e garantir uma carreira:
- Eu espero que sejamos uma democracia. Mas, você sabe, democracia não se compra. Isso vai levar muito tempo porque as pessoas não estão acostumadas.
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