Como Deng contornou o impasse que herdou de Mao?
Deng Xiaoping foi exilado na própria China duas vezes.
Durante a Revolução Cultural, trabalhou como operário numa fabrica de tratores, no interior do país.
O filho foi perseguido e na fuga caiu de um andar alto.
Acabou paraplégico.
Quando Zhou Enlai morreu, em 1976, Mao teve que isolar a Gangue dos Quatro e a alternativa de poder era Deng.
Mao morreu em seguida, também em 1976, e Deng assumiu plenos poderes em dezembro de 1978.
Naquela altura, o comércio da América com a China era de US$ 336 milhões, pouco acima do comércio com Honduras.
E um décimo do comércio americano com Taiwan, que tem 1,6% da população da China.
Deng não era poeta, não era carismático, nem era economista.
Deng era um pragmático de algumas idéias fixas.
“A chave da modernização é o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia.”
Sobre a economia, se considerava um leigo e tinha duas outras idéias fixas: estimular a iniciativa individual do chinês e abrir a economia ao mundo.
E iniciou um agressivo programa de treinamento de jovens chineses em escolas americanas.
“Camaradas, pensem bem: temos que extrair a verdade dos fatos, mergulhar na realidade e integrar a teoria à pratica,” disse Deng no Congresso do Partido em que “tomou posse”.
“O socialismo não é a pobreza”, continuou.
Deng não fazia questão de cargos nem das guirlandas do poder.
Ele era um profissional do poder – um sobrevivente à perseguição e à privação.
Era um comunista impermeável.
Essa teoria de que instalou o “capitalismo ” na China é coisa de neolibelês (*) auto- referente.
É só ver a obra que Deng deixou: o socialismo de características chinesas, como ele gostava de chamar.
Sem qualquer concessão às regras da democracia liberal, ocidental.
Mao fundou a China Comunista e deu a ela o peso de uma potência no ambiente mundial.
Deng deu prosperidade, criou uma classe média, e assim multiplicou a força da potência.
Deng tinha um problema: ele era o sucessor de Mao.
Não aquele com que Mao sonhou.
Mas, não interessa.
Mao pesava sobre as costas de Den.
Um líder amado, de dimensão que ultrapassava o espaço da política.
A China faz questão de esquecer o lado sombrio de Mao – os 20 milhões de mortos na grande e fracassada arrancada econômica; a perseguição na Revolução Cultural.
Mas, Deng tinha que dar substância “à visão do que era necessário” e “ter a coragem de seguir um curso cujos benefícios só ele, num primeiro momento, conseguia vislumbrar”
Esta frase está no livro “On China”, de Henry Kissinger, The Penguin Press, New York, 2011, pág 333.
(Clique
aqui para ler “Presidenta, leve o Brasil a Ialta e leia Kissinger ” )
Como Deng se desembaraçou do impasse – respeitar o legado de Mao e mostrar onde ele errou, para abrir o novo curso ?
Assim:
“O Camarada Mao dizia, ele próprio, seguidamente… se o trabalho de alguém pode ser considerado de 70% de realizações e 30% de erros, isso será muito bom. E ele esperava que, após a morte, as futuras gerações assim considerassem a sua obra : com essa relação de 70-30.” (Pág. 332.)
Palocci, Nascimento, Rossi, a falta de uma Ley de Medios e a revisão da Lei da Anistia.
Talvez nem chegue a 30%.
Em tempo: o amigo navegante deve ter percebido que o ansioso blogueiro está fascinado com a leitura que Kissinger faz da China. Desconfia até que Kissinger tenha admirado mais Mao, Zhou Enlai e Deng do que os dois presidentes americanos a que serviu diretamente: Nixon e Ford.(Conversa Afiada).
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