quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Por que sofremos, segundo Pascal



Postado em 02 Jan 2014
Pascal
Percorro “Os Pensamentos”, de Blaise Pascal, um livro caoticamente sublime. O grande crítico francês Saint-Beuve definiu “Os Pensamentos” como “uma na qual as as pedras foram postas umas sobre as outras, mas não cimentadas, e cuja estrutura ficou inacabada”. Pascal morreu aos 39 anos, em 1641, antes de poder dar forma final à sua formidável “torre”, cujo objetivo maior era a defesa do cristianismo. (É nela que está a frase citadíssima segundo a qual o coração tem razões que a razão desconhece.)
A morte veio cedo para Pascal, colosso não só das letras mas da matemática e da física. Mas ele teve tempo suficiente para inaugurar a prosa francesa tal como a conhecemos hoje. Frases simples, profundas, cortantes, encadeadas com lógica matemática e paixão.
A edição que leio gratuitamente no iBooks tem um brinde, um prefácio do poeta, crítico e dramaturgo americano TS Eliot. “Pascal é um escritor que será lido e estudado pelos homens a cada geração”, escreveu Eliot. “Não é ele que muda. Nós é que mudamos. Não é nosso conhecimento dele que aumenta, mas nosso mundo que se altera e nossas atitudes perante isso. A história da opinião humana sobre Pascal e pessoas de sua estatura é parte da história da humanidade. Isso assinala sua importância permanente.”
Parêntese. Tom Jobim gostava de declamar, em inglês, uma frase de “Terra Perdida”, a obra-prima de Eliot. “April is the cruellest of the months”. Abril é o mais cruel dos meses. Um dia Tom confessou que era a única que ele conhecia.
É sobre um pensamento específico de Pascal que desejo falar. Me fez parar para pensar.
Aqui está: “Descobri que toda a infelicidade dos homens deriva de um simples fato: eles não conseguem ficar quietos em seu quarto.”
Clap, clap, clap.
Palmas.
Isso me remeteu a Sêneca, que dizia que “mendigamos ocupações”, e “como formigas” subimos e descemos o tronco das árvores sem propósito. (Alguém me disse que as formigas sobem e descem com aparente propósito, mas prefiro ficar com Sêneca.)
Pascal, como diria meu amigo Píndaro, brilhou.
Somos inquietos. Não sossegamos. Não conseguimos ficar no nosso canto.
Por isso sofremos.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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