sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

“O envelhecimento não é mais um destino: é um processo configurável”



velhice
Publicado na DW.

A cada ano que passa, as pessoas estão vivendo mais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa média de vida hoje é de 71 anos, levando em conta a média global e ambos os sexos – em 1990, ela era de apenas 64 anos. No Brasil, esse índice melhora: os brasileiros vivem, em média, 75 anos.
Em entrevista à DW, o ginecologista Bernd Kleine-Gunk, presidente da Sociedade Alemã de Prevenção e Medicina Antienvelhecimento (GSAAM, na sigla em alemão), enumera os diversos fatores favoráveis a essa maior longevidade. Mas garante não haver uma fórmula secreta de rejuvenescimento: “Existem, porém, muito bons conselhos.”
DW: Por que as pessoas estão vivendo mais – pelo menos no Ocidente?
Bernd Kleine-Gunk: Existem diversos fatores favoráveis. Os cuidados médicos, por exemplo, estão em constante progresso. Mas sabemos que isso não é o mais importante. O fator decisivo é que hoje temos melhores condições de vida, como melhor alimentação e melhor higiene. Esses aspectos influenciam mais na expectativa de vida da população do que a medicina propriamente dita.
O que podemos aprender com as chamadas “zonas azuis”, onde as pessoas vivem mais do que a média mundial?
Não existe um denominador comum em todas elas. Em cada região, a população leva um estilo de vida diferente. Na Sardenha, por exemplo, eles afirmam que o vinho tinto é o segredo de sua longevidade. Já na ilha japonesa de Okinawa, o segredo seria a alimentação à base de algas. No entanto existem alguns fatores comuns: ninguém que chegou aos 100 anos, em qualquer dessas regiões, estava acima do peso. Pelo contrário, eles são adeptos da restrição calórica há décadas, como recomendam os especialistas em rejuvenescimento. Mas não como medida dietética consciente, e sim porque não tiveram alimento suficiente por muitos anos.
Além disso, a base de sua dieta são frutas e verduras. Muitos deles são agricultores e continuam trabalhando enquanto a idade – e o físico – permita. Por isso, passam muito tempo respirando ar fresco e adquirindo bons níveis de vitamina D. E, por último, o mais importante: eles estão bem arraigados em suas famílias e comunidades. Nenhum deles vive num lar de idosos. Esse sentimento de “Eu sou útil e tenho um papel a desempenhar na vida” é crucial e lhes dá forças para que continuem vivendo.
Qual é a importância da atitude pessoal para se viver mais?
Gente otimista e afetuosa tem mais amigos durante a velhice. Quem é amável também é digno de ser amado. É bom se sentar junto com essas pessoas – com os rabugentos, nem tanto assim. Descobrimos que essa é também uma fantástica profilaxia da demência. O cérebro é um órgão social: precisamos do intercâmbio com os outros, e ele é muito mais fácil com os que têm uma estrutura básica amigável do que com os que vivem como lobos solitários.
Existe alguma fórmula para permanecer jovem por mais tempo?
Uma fórmula única, seguramente não. Mas existem conselhos muito bons. Um deles é: não deixe de fazer as coisas de que gosta. Nenhum artista deixa de pintar aos 65 anos, ou de escrever, ou de tocar música. Outro conselho: evite tudo aquilo o que faz envelhecer e morrer prematuramente, sobretudo fumar. Mais uma dica: cuide de seu peso, siga uma dieta equilibrada. E nunca perca a curiosidade pela vida. Se estou sempre descobrindo coisas novas e belas, tenho uma boa motivação para seguir vivendo.
Por que envelhecemos?
Estamos na Terra porque temos um objetivo biológico básico, que consiste em transmitir nossos genes às gerações seguintes. Feito isso, nos tornamos prescindíveis. Então passamos a envelhecer de maneira significativa e mensurável. Até os 30 anos, quando a missão de reproduzir normalmente foi cumprida, permanecemos jovens. A partir daí, não somos mais interessantes para a Mãe Natureza. Quem, então, ainda quiser se manter jovem e saudável, precisa se cuidar muito.
As mulheres se tornam inférteis antes dos homens, mas a expectativa de vida delas ainda é maior. Como isso se explica?
Há duas teorias. A primeira é que as mulheres são mais importantes. Elas contribuem para a preservação e reprodução da espécie muito mais do que os homens, por meio da gravidez, da amamentação e da criação dos filhos. Dessa forma, estão mais protegidas biologicamente.
A outra versão é a assim chamada “hipótese da avó”. Ela postula que as mulheres de idade avançada, mesmo que inférteis, ainda mantêm um papel importante na educação e criação dos netos, o que também ajuda a preservar a espécie. Por isso as mulheres vivem mais. Homens idosos, por sua vez, são só uma boca inútil para alimentar.
O que ocorre com o corpo quando envelhecemos?
Várias coisas, muito diversas. Basicamente, podemos distinguir sete pilares do envelhecimento. Um deles é a oxidação, um processo pelo qual são gerados os chamados radicais livres, que passam a nos contaminar. Há também o processo de glicosilação, em que o açúcar se associa à proteína, impedindo que os tecidos do corpo funcionem corretamente.
Outro pilar do envelhecimento são as inflamações crônicas – aquelas que ocorrem em pequena escala. A morte das células-tronco, responsáveis por nos regenerar, é outro processo que nos leva a envelhecer. Danos genéticos e epigenéticos ao DNA aumentam com a idade e causam doenças relacionadas à velhice.
Outro pilar é a falta de hormônios e, por fim, o encurtamento dos telômeros, as extremidades dos cromossomos. A cada divisão celular, eles se encurtam um pouco, até alcançar um limite crítico, quando as células não são mais capazes de se dividir e morrem. Hoje já é possível medir o comprimento dos telômeros, o que é um possível parâmetro para avaliar a longevidade.
Medindo os telômeros é possível prever quando morreremos?
Não, isso seria um excesso de interpretação e só serviria para assustar as pessoas. Mas a medição dos telômeros nos permite descobrir se somos biologicamente mais velhos ou mais jovens do que indica nossa idade cronológica. E a boa notícia é: podemos influenciar o resultado desse exame através de nosso estilo de vida. O envelhecimento não é mais um destino: é um processo configurável.

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Para procuradores, advogados violam princípio básico do direito


Responsáveis pela defesa de acusados na Lava Jato criticaram atuação de autoridades


Sean Penn Upset Everyone Missed The Point Of Terrible 'El Chapo' Article

Cbs

Ninguém tem nada a ver com o peito de Manuela D’Ávila. Por Nathalí Macedo



Postado em 15 jan 2016
Deixem Manuela em paz
Deixem Manuela em paz
Nesta semana Manuela D’Ávila publicou um desabafo sobre a repercussão negativa de uma foto em que aparece amamentando sua filha. Os comentários me enojaram.
Mas, antes disso, me fizeram duvidar que, em pleno Século XXI, ainda precisemos lidar com gente que sexualiza a amamentação.
Houve quem julgasse a ‘exposição’ das mamas desnecessária.
Ainda que esquecêssemos, em primeiro plano, a ternura imbutida no ato de amamentar – e o absurdo que é buscar sexualizá-lo – nos restaria este argumento simples e persistente, embora ininteligível para alguns: nossas mamas são um problema nosso. Seja para amamentar nossos filhos, amenizar nosso calor ou saudar a nossa liberdade.
Não importa se você é uma deputada, uma modelo, uma ativista, uma mãe: nossos peitos não dizem respeito a ninguém além de nós mesmas.
Afora esta máxima simples que, em pleno ano de 2016, precisamos repetir como se fosse uma grande novidade, há a hipocrisia daqueles que esperam que uma mãe cubra os seios com uma toalha para amamentar seu filho mas não se indignam com a globeleza e compartilham revenge porn.
Isso, por si só, nos convence de uma verdade que gostaríamos intimamente que não existisse: nossos corpos só podem existir para o deleite masculino. Fora das propagandas de cerveja, dos sites adultos e das rainhas de bateria, são imorais, indesejáveis, vergonhosos.
Nossos peitos não podem existir para amamentar nossos filhos porque alguns homens ainda acreditam que têm o direito de sexualizar aquilo que bem entenderem, sob o argumento patético de que ‘a excitação não está a mercê de julgamentos, é uma questão de gosto.’
Esse ‘gosto’ que, aliás, tem sido usado para justificar os mais injustificáveis absurdos.
“Não gosto de negros, mas é uma questão de gosto.” Ou:”Tenho nojo de mulheres gordas, mas gosto não se discute”. Ou: “Fico excitado vendo uma mulher amamentar, é o meu gosto que deve ser respeitado. Posso, portanto, exigir que mães não amamentem publicamente.”
Acontece que nossos gostos, como quase tudo, são uma construção cultural. E nós podemos, sim, nos indignar diante de homens que consideram excitantes o ato da amamentação – porque isso não é, pura e simplesmente, uma questão de gosto ou excitação pessoal. É opressão doentia.
Além de tudo isso – que, para mim, parece óbvio, mas ainda precisa ser explicado – o fato é que a foto de Manuela D’Ávila – uma mulher pública – é, por si só, ativista. Ainda que não houvesse sido esse o objetivo inicial.
Portanto, ‘desnecessária’ é tudo o que esta publicação não é. Ela representa tantas outras mães que são constrangidas ao amamentarem seus filhos em público e não têm coragem o suficiente para se manifestarem, assombradas pelo fantasma do julgamento alheio.
E usar a própria popularidade para levantar uma bandeira tão importante e, infelizmente, tão contemporânea é, no mínimo, muito necessário.
São necessárias as nossas marchas, os nossos “textões” cheios de problematização e as nossas fotos amamentando. Continuarão sendo necessárias enquanto houver pessoas que acreditam que o corpo do outro lhes diz respeito.
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Nathali Macedo
Sobre o Autor
Colunista, autora do livro "As Mulheres que Possuo", feminista, poetisa, aspirante a advogada e editora do portal Ingênua. Canta blues nas horas vagas.