segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O 'mediterrâneo'

Paulo Guedes

Ainfluência dos povos germânicos nos destinos da Europa foi sempre inescapável e decisiva. Nos seus nove anos em campanhas de conquista na Gália (França, Sul da Holanda, Bélgica, parte da Alemanha a oeste do Reno e quase toda a Suíça), Júlio César classificava a bravura dos povos celtas por sua proximidade e frequência de conflitos com germânicos. Helvéticos mais bravos que belgas, e estes mais bravos que gauleses.

"Esses povos já haviam evoluído de antigos reinados tribais hereditários para magistraturas de conselhos eleitos e códigos de direito público. Mas a instabilidade política de seus governos era um reflexo de seu caráter: impulsivos, emocionais, inconstantes, crédulos, manipuláveis, facilmente propensos ao pânico, impetuosos, de raciocínio disperso e de natureza muito volátil", registra seu clássico "A conquista da Gália", no ano 52 a.C.

O maquiavélico cardeal Richelieu, da França, "subornou inimigos, fomentou insurreições e prolongou guerras no Sacro Império Romano-Germânico por décadas: a França observava enquanto a Alemanha era dilacerada. Richelieu atrasou a unificação da Alemanha por dois séculos, dividindo-a em mais de 300 principados, cada um conduzindo uma política externa independente. A Alemanha não conseguia se tornar um moderno estado-nação. Calcificou-se em um provincialismo sem identidade política nacional, do qual não emergiu até o final do século XIX, quando foi unificada por Bismarck. Em busca dessa tardia afirmação, continuou sendo campo de batalha das guerras europeias, causando as piores tragédias do século XX", registra Henry Kissinger, em "Diplomacia" (1994).

Os franceses, filosoficamente universalistas e geopoliticamente manipuladores, foram os arquitetos do euro. Apoiaram-se na força da economia alemã para atrair as nações mediterrâneas a uma moeda continental como alternativa ao dólar. Por ironia, a crise contemporânea desnudou a irresponsabilidade financeira da social-democracia europeia. Revelou também o despreparo dos financistas, que confundiram moeda e crédito, atribuindo riscos de crédito semelhantes a países financeiramente distintos, apenas pelo fato de usarem uma moeda comum. O sonho de escapar à ferocidade germânica e às maquinações gaulesas, deixando-os juntos em uma jaula, tem nome: fujam portugueses, espanhóis, italianos e gregos para o "mediterrâneo", a nova moeda do Sul da Europa.(Rádio do Moreno).

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