domingo, 15 de abril de 2012


Turismo de gringos


Em artigo no O POV deste sábado (14), o médico, antropólogo e professor universitário, Antonio Mourão Cavalcante, comenta sobre os verdadeiros interesses do turista por Fortaleza. Confira:
O turismo tornou-se a palavra da moda. Descobriu-se que trazer turistas e mostrar “nossas belezas” viraram um grande desafio e a possibilidade de bons negócios. Mas, que atrativos nós temos a oferecer? Nossas praias? Claro que elas são extraordinariamente belas. O sol, como rei, queimando a pele esbranquiçada dos gringos? Nossos quitutes? A lagosta e o peixe? A água de coco gelada? A tapioca? A caipirinha?
O Governo do Estado tem pensado em coisas mais sofisticadas: um amplo centro de eventos, estradas ampliadas e bem sinalizadas, aeroportos em Jeri e Aracati… e até um aquário! Com isso, imagina que os turistas vão se encantar.
Acredito, porém, que os gringos terão curiosidade em saber que povo é esse que vive por aqui. Será que as crianças frequentam a escola? Sabem ler e escrever? Como é a moradia desse povo? Tem sanitário e água encanada? Quanto ganha um pai de família? E quando adoecem, como se tratam? Os hospitais são equipados? Médicos de plantão e enfermeiras atenciosas? Eles assistirão, na TV, que é uma maravilha. Mas, na vida real, será que é assim mesmo?
Como anda a segurança? Poderão passear pelas ruas e praças da cidade, como eles fazem nas terras deles? E, por que tanto noticiário policial na TV e tantas mortes estampadas nos jornais?
Que prédio bonito é aquele? Ah! É a Assembleia Legislativa. Toda em vidro fumê. Os parlamentares são voluntários? Como os turistas vão reagir sabendo de todas as mordomias que eles recebem?
Vocês pensam que os gringos são bobos? Eles perguntam essas coisas sim. Eles querem saber como é que essa gente tão alegre – quase serviçal – constrói seu cotidiano e realiza as trocas simbólicas e reais com os outros. Inexoravelmente, eles vão descobrir que há um mundo para os ricos e outro, bem maior, cercando a cidade, o mundo dos pobres.
Deixará saudades e alguns dólares. Será que mesmo frequentando um estádio – desculpe, Arena do Castelão! – tão moderna, ele levará uma bela impressão dessa sociedade? O que ele contará a seus patrícios, quando lhe for perguntado: e aí, valeu?

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